segunda-feira, 1 de junho de 2015

Minha relação com a diabetes

A vida é um breve espetáculo. Por ser breve, mereceria ser bem desfrutada. Mas, infelizmente, nem sempre o fazemos. Acreditamos na hipócrita ideia de que duraremos eternamente, uma ideia que talvez exista para fugirmos daquela aterrorizante realidade que já sabemos: um dia tudo acaba, nada dura para sempre. Muitas pessoas conseguem, em algum momento da vida, dar-se conta de que em algum momento chegará ao fim, e resolvem então mudar de atitude. Mudam seus hábitos alimentares, passam a se preocupar com a saúde, se aproximam de novo dos pais, dos filhos, dos parentes. Viajam mais, consomem menos. Brigam menos, se estressam menos. Conversam muito mais consigo mesmos. 
Diabetes: um problema que virou oportunidade


No entanto, muitos, como eu, acabam aprendendo a lição pelo jeito mais dolorido. E estou ainda no começo da lição, após mais um momento de choque em minha vida: descobri que sou portador de diabetes tipo 1. Ou seja, por conta de fatores hereditários e, quem sabe, por agravamento causado por maus hábitos, tive que mudar totalmente de vida desde o dia 12 de maio de 2015, dia da triste descoberta. O índice de açúcar no sangue estava tão alto que eu poderia ter entrado em coma ou algo pior. As aplicações de insulina passaram a fazer parte do meu cotidiano. Junto com ela, vieram os alimentos integrais e diet, além de um consumo ainda maior de verduras e legumes. Já não devo comer doces, alimentos muito gordurosos, farinhas refinadas, batatas, frutas em excesso, frituras e outros. A vida passou a ter horário para tudo, várias pequenas refeições, exercícios físicos e muitas picadas para medir o açúcar do sangue e aplicar insulina. Pior do que isso é saber que a diabete é tratada como uma doença crônica - é improvável que ela seja curada com as atuais ferramentas à disposição. Sumi do convívio com amigos e faço o possível para não sair de casa.
Evidentemente o mundo caiu sobre mim, as lágrimas foram inevitáveis. Dói saber que a rotina teria que ser regrada para sempre, que teria que ver pessoas se lambuzando em guloseimas sem poder fazer o mesmo, que teria que me cuidar muito mais do que os outros, que teria horário para tudo. Me recolhi em meu canto, não queria saber de contato com outras pessoas. Tive dias em que a vida deixou de fazer sentido. Em todos os dias desde então ainda existe algum tipo de crise assim.
Felizmente, com o carinho e o apoio da família e da namorada (os únicos a quem permiti que soubessem do problema até então), comecei a levantar novamente a cabeça e encarar a diabetes de outra forma. Muito embora o problema seja visto como crônico, acredito que as causas espirituais e emocionais afetam diretamente, de modo que estou investindo muito em transformações pessoais nesse sentido. Tenho buscado ficar próximo das pessoas que me amam de verdade, filtrado a presença de quem não me faz bem e deixado de levar a vida e a mim mesmo tão a sério. Tenho tentado controlar a ansiedade e não entrar em surto quando as coisas não dão certo. Tenho a plena consciência de que não vale a pena se estressar com nada além da minha própria saúde. E, nesse sentido, a diabetes me serve hoje como um álibi para justificar a fase em que mais investi em mim mesmo, que eu mais cuidei e mais amei a mim mesmo. Pois quero ainda viver muitas experiências nesse breve espetáculo, e hoje tenho consciência de que nem eu nem ninguém que estiver ao meu redor ficará bem se eu não me cuidar, que nenhum sacrifício à saúde ou ao espírito vale a pena.
A você, caro leitor, fica minha dica de vida: não se estresse ainda mais, o estresse também causa diabetes. Cuide da sua alimentação, coma alimentos saudáveis em períodos distribuídos do dia. Ame mais, viva com mais intensidade, converse consigo mesmo. Sorria mais, deixe de ficar se preocupando com as pessoas, com o mundo e com o futuro. Aprenda a ignorar certas coisas e certas situações, deixe de ser escravo do seu ego e das suas ideias. Pare de cobrar sucesso de si mesmo e dos outros. Nada, nada vale a pena na sua vida se você não estiver bem. Cuide-se.

Um comentário:

  1. É tão bom saber que apesar de toda a dificuldade que é possível passar nessa vida, é possível também escolher o modo de encarar essas coisas..
    Te admiro muito primo, e desejo de coração muita positividade nesta nova fase.
    Abração.

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