domingo, 10 de janeiro de 2016

A racionalidade - e como transformá-la em uma praga

Sou um jovem adulto de 25 anos. Meu ensino escolar e mesmo acadêmico foi norteado pelo cartesianismo/positivismo. Ou seja, aprendi a crer naquilo que passou por um processo científico, teve seus testes de falseabilidade e, consensualmente, tornou-se verdade. Logo, recebi incentivos para que essa lógica fizesse parte da minha vida: - você deve estudar muito e tirar boas notas para se dar bem na vida, precisa trabalhar e ganhar bastante dinheiro para consumir bastante, deve ir à missa todos os domingos e SEGUIR TODAS AS REGRAS estabelecidas consensualmente pela sociedade para ser alguém decente e de sucesso. Essa é a lógica do positivismo: seguir uma mesma fórmula que trará um mesmo resultado para TODOS, em qualquer lugar.

Por consequência, temos uma vida de muito conforto material hoje em dia. Os alimentos são baratos e facilmente encontrados em comparação com tempos ligeiramente anteriores. Temos acesso a roupas, eletrônicos, meios de transporte e entretenimento, podemos nos comunicar instantaneamente, decidimos os nossos governantes. Evolução? Talvez não...

A lógica cartesiana nunca levou a sério a complexidade do espírito humano. A bem da verdade, a maioria das pessoas da minha idade sequer acredita que temos um espírito, não dá a mínima para os cuidados básicos com seu íntimo e seus sentimentos. Pouquíssimas pessoas da minha geração são religiosas e frequentam igrejas, os poucos que o fazem são julgados e taxados de alienados. Alguns recorrem a psicólogos, esperando que estes profissionais lhes forneçam uma receita de bolo para a felicidade, o que obviamente não acontece. A grande maioria acha esse papo de espiritualidade uma grande balela, que a vida é isso aqui mesmo, vivemos para sustentar a carne e consumir, nada existe antes ou depois, que esse lance de 'Deus', 'energia cósmica' e tudo mais é conversa para boi dormir. Tudo o que conseguimos fazer até hoje é encontrar mecanismos para provar que a fé não nos leva a lugar algum. Que não vale a pena ir na igreja por que a bíblia foi escrita por homens, que não vale a pena meditar por que não existem estudos que comprovem sua eficácia e não vale a pena consultar um psicólogo por que dá muito gasto e pouco retorno.

Não é a toa que estamos presenciando uma sociedade tão doente, embora tão rodeada de confortos materiais. Os últimos tempos de crise parecem mostrar que os problemas da humanidade vão muito além do que parece e que sim, há algo dentro de cada um de nós ansiando por um pouco de atenção: nosso espírito. Aos poucos vamos percebendo que o amor, a paz, a fraternidade e a solidariedade são bens de inestimável valor e, o mais importante, não podem ser comprados com dinheiro e não possuem fórmulas para serem alcançados. 

O que precisamos aprender com urgência é deixar que nosso próprio espírito busque seu alimento. É natural que nosso lado racional questione e critique tudo, mas nosso espírito tem todas as respostas. Temos que admitir que não temos conhecimento sobre as necessidades da nossa alma e que ela tem razões maiores do que podemos compreender. Portanto, precisamos sim ir à busca de apoio emocional e espiritual, independente do tipo de apoio. E quando recorrermos a este apoio, não podemos deixar nosso cérebro importunar e questionar tudo, mas precisamos filtrar e extrair tudo o que nosso coração precisa. Nos sentiremos melhor e não precisaremos explicar isto para ninguém. Afinal, nem tudo na vida precisa de provas e comprovações. Algumas coisas podem ser simplesmente VIVIDAS.